opinião

UM VINHO, UM PÃO E UMA REZA

2 de julho de 2023

Por GILBERTO CARNEIRO
OS CONFLITOS internos que vivenciamos no cotidiano nos ensinam que temos de exorcizar nossos demônios todos os dias. Esta postura evita a somatização de dissabores e decepções que a vida nos envolve e blinda nosso coração contra sentimentos de ódio, inveja, ira e rancor, por mais amargurados que possamos estar.
E existem inúmeras maneiras de fazermos esta exorcização. Alguns acordam e meditam; outros fazem atividades físicas; outros ouvem música ou sentem a necessidade de conversar, e há aqueles que simplesmente trabalham ou os que fazem tudo ao mesmo tempo. Todas estas formas são válidas, eficazes, porém a mais completa, sem dúvidas, é o exercício do fortalecimento diário da nossa fé.
Acordar, desprezar o celular, beber um copo com água e rezar, poderá parecer algo simples, mas faz toda a diferença. Pode ser um Pai- Nosso, um Credo, uma Ave-Maria, um Santo Anjo, uma oração de São Bento ou a leitura de um salmo, preferencialmente o salmo 91, ou então simplesmente dialogar com Deus, do seu jeito, na solidão do seu quarto, pois como cantou Marcelo Falcão na música “Anjos”, do “Rappa”:  (…) “Se você não aceita o conselho, te respeito. Resolveu seguir, ir atrás, cara e coragem. Só que você sai em desvantagem, se você não tem fé, se você não tem fé. Te mostro um trecho, uma passagem de um livro antigo, para te provar e mostrar que a vida é linda, dura, sofrida, carente em qualquer continente, mas boa de se viver, em qualquer lugar. Volte a brilhar, volte a brilhar. Um vinho, um pão e uma reza. Uma lua e um sol, sua vida, portas abertas” (…).
Não me transformei em um beato arrependido,  previno desde já os incautos que se apressam em fazer seus pré-julgamentos, apenas mudei alguns hábitos e descobri que a vida faz muito sentido quando encaramos a relatividade da simplicidade das coisas e não guardamos rancor em nossos corações.
Lembro do massacre que fizeram com Lula. Preso injustamente, enquanto esteve no cárcere, foi impedido de ir ao sepultamento do seu irmão e do seu neto. Um ano antes, mas em meio a turbulência que vivia, perdeu sua esposa. Ficou preso injustamnete 580 dias. Impedido de concorrer à presidência da República em 2018 soube esperar e na eleição seguinte foi eleito pela terceira vez presidente da República do Brasil.  Os papéis se inverteram e, hoje, aquele que foi beneficiado pela famigerada operação Lava – Jato, o todo poderoso Bolsonaro, foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE, decretada sua inelegibilidade por 8 anos.
Todavia, o mais importante é o registro da história da vida, nos revelando que o seu  ciclo  é dinâmico e que como bem escreveu meu caro Tião: “Nada como um dia atrás do outro, com uma noite no meio”.
O bom da vida é viver a simplicidade dela. Por isso, lamento quando vejo pessoas descreverem a importância da vida apenas sob o ponto de vista de bens materiais, viagens, shows e luxúria. Evidente que o ser humano sente necessidade de conforto, porém achar que o indígena que mora na oca não é feliz porque não possui um colchão “Ortobom” ou um ar-condicionado é uma forma muito fútil de compreender a relatividade da importância das coisas da vida, e não dá o direito aos capitalistas de invadirem suas terras e explorar suas riquezas minerais simplesmente porque têm uma cultura diferente.
O pensar no mundo avança de forma vertiginosa para uma concentração de ideais individualistas e egocêntricos fortalecendo a cultura da arrogância e da prepotência. O padre Júlio Lancellotti , considerado o profeta da luta social, soube precisar com muita propriedade a doença do mundo moderno: “O neoliberalismo não é só um sistema econômico e político, ele é uma epistemologia. Nós pensamos de maneira neoliberal, mesmo entre as pessoas mais necessitadas. Ninguém abre mão para o que tem mais necessidade. A necessidade se opõe a ética. Isso embrutece muito e desumaniza a todos, os que impõe essa lógica e os que são submetidos a ela”.

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