BICHOS ESCROTOS

EXISTEM momentos na vida que são únicos. Um deles vivi este final de semana, graças a perspicácia da minha  esposa, que se antecipou  e comprou os ingressos do show dos TITÃS,  na sua formação original.

Então vou simplesmente defender que Cida Ramos apresente um projeto de lei na Assembleia e Luiz Couto outro na Câmara Federal, parlamentares por excelência, com a finalidade de  implementar o direito de todo e qualquer cidadão, independente de cor, raça, classe social ou religião, antes de morrer, ter o direito de assistir um show dos TITÃS.

O grupo é  imortal e o seu público de todas as idades, mentém-se firme no propôsiito de preservar esta imortalidade.  Fui ao show sob uma perspectiva pessimista de encontrar sete sessentões com uma  performance de palco limitada,  mas o que presenciei foi um Arnaldo Antunes exalando criatividade;  Nando Reis, como sempre, elétrico;  um Branco Mello emocionando a todos ao revelar que o câncer na garganta não comprometeu sua voz;  Charle Gavin  “quebrando” a  bateria e ostentando simpatia homenageando nossa Terra;  Sérgio Brito mantendo sua interação com a cultura local; Tony Belloto arrepiando com sua guitarra e Paulo Miklos nos intrigando com seu olhar enigmático.

O Noneto só não estava completo porque dois integrantes partiram deste plano terrestre. Marcelo Fromer, infelizmente não está mais entre nós, morto em 2001 após ser atropelado por uma moto. Para minimizar sua ausência, o show contou com a participação especial de sua filha Alice Fromer.  Outro que deixou saudades foi Ciro Pessoa que morreu em 2020 depois de ser vencido por um câncer.

Sem dúvidas foi o melhor show que assistir na minha vida. Os músicos multi instrumentistas, enquanto banda de roch, deveriam tornar-se Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade juntos com suas  obras magnificas, como “Flores”; “Homem primata”, “Os cegos do castelo”, “O pulso”, “Polícia”, “Comida”, “Epitáfio” e “Bichos Escrotos”.

Agora, o que Flávio José que ostenta a foto neste manuscrito tem a ver com isso? Tudo.

Em tempos em que a nossa cultura musical pede socorro, em que o nosso autêntico forró é menosprezado, como no triste episódio do São João de Campina Grande quando a organização do evento cortou o show de Flávio José para antecipar o de um Gustavo Lima, talvez para atender à conveniência e agenda do sertanejo, como bem denunciou o Blog do Tião, ter a oportunidade de assistir um show como o dos TITÃS é um afago na nossa alma e, ao mesmo tempo, um ato revolucionário dando uma banana cultural para essa agenda musical medíocre organizada por BICHOS ESCROTOS que visam apenas empanturrar seus bolsos com mega eventos e cachês milionários pagos com dinheiro público em municípios que vivem sob situação de pobreza com a decretação de estado de calamidade pública.