Diário da Covid

Diário da Covid – VI

3 de março de 2021

Primeiro foi a caixa d`água, depois as caixas particulares, o certo é que a quarta-feira foi cheia de contratempos aqui no nosso front anticovid. A água geral faltou e quando voltou não chegou porque entrou vento na encanação. Pedro Cirne apareceu para dar  um jeito. Ele não é encanador, tampouco vive disso, se ofereceu para quebrar o galho do vizinho. Aqui, para os menos informados, existe solidariedade, sim senhor. Não deu jeito, mas tentou. São Dário, o eletricista dos sete instrumentos, resolveu a parada já na boquinha da noite.

Mas os percalços não se limitaram a falta de água. A geladeira está com jeito de que vai pifar. A mulher, sempre ela, futucou por lá e descobriu que é um tal de relé que está precisando de troca. Se você me perguntar onde fica e do que se trata, receberá um não como resposta. Relé de geladeira e raspador de côco pra mim são a mesma coisa.

Chico Ferreira acaba de ligar. Diz que passou a manhã inteira defendendo os seus clientes no pleno do TJ. Digo no pleno, mas de logo desdigo: ele e os julgadores se comunicavam on line por causa das restrições. Chico se diz feliz com os trabalhos de hoje. Os dois clientes que defendeu ganharam a causa. Mas ele se queixa de dores no corpo, que não são dores de Covid,  ressalta,  porque a Covid já passou pela sua vida e ele nem notou.

A mulher não gostou muito de um desejo que externei na hora do almoço: Quando eu tomar as duas doses da vacina vou tomar uma no Bar de João  sem hora pra terminar.

Ela já avisou que desejo dá e passa. E que eu vá logo tratando de tirar o cavalinho da chuva porque essa farra só vai acontecer Dia de São Nunca.

Dona Cacilda sabe que aqui em casa mando eu. Ela dá uma ordem e eu logo retruco: “Vou fazer porque quero”. E faço, só pra mostrar que a derradeira palavra é sempre a minha.

Não sei como vou administrar esse desejo contido, essa vontade refreada. Se João fizesse como o Véi do Pife, o problema estaria resolvido. O Véi do Pife botou uns canos saindo da casa de taipa onde morava na Rua do Ferreiro, por onde jorrava o mijo e outros inconvenientes, o que livrou Siá Joaquina, mulher dele, de sair com o sol nascendo para jogar o pinico fora. João bem que poderia levar a encanação do Bar até a janela lá de casa e mandar “o todynho” pela gravidade. Nem que, por causa disso, eu recebesse um pinico na cabeça.

O fato novo de hoje foi o jumento atropelado por um avião na Bahia. O avião estava carregado de vacinas. O jumento escapou, o avião teve pequenos amassos e nada aconteceu, graças a Deus, com as coronavaques.

Dizem que os velhos de sessenta acima começarão a receber a vacina este mês. O prefeito prometeu. E eu já estou me aprontando. Vou pra fila, vou levar furada, tantas furadas quantas a moça de branco desejar.

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1 Comentário

  • Reply Delfos 3 de março de 2021 at 22:33

    Não durou nem 6 horas a promessa
    de comprar ” todas as vacinas
    disponíveis da Pfizer”.
    No começo da noite já tinha virado
    ” caso em estudo”.
    E o apelo do filho nas redes sociais:
    “Confiem no presidente” encontrou
    eco nos panelaços à noite.

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