Diário da Covid

Saga iniciada com a COVID19

5 de março de 2021

 

CACILDA LUCENA

Quando a pandemia foi decretada e chegou ao nosso País, ao nosso Estado, fomos tomados de medo do desconhecido. Resolvemos diante do que estava ocorrendo sair de João Pessoa e se esconder no interior onde temos uma casa num pequeno condomínio rural, inclusive por recomendação da nossa cardiologista, já que temos serias comorbidades.

Passamos a acompanhar tudo pela mídia e cada dia o sofrimento aumentava por ter deixado os filhos, netos, genro e nora em João Pessoa. O medo fazia com que eu sentisse uma fragilidade emocional com receio de ocorrer alguma coisa séria com os meus. Infelizmente ocorreu. Minha filha e meu genro foram infectados e hospitalizados e vivemos dias de angustia, de incertezas, medo do desconhecido e o pior dos sentimentos: não poder está perto, abraçar, confortar.

Foram noites insones, clamando a Deus pra que tomasse conta. ELE foi esplêndido diante da doença, porque minha filha tem três filhos, e a primogênita é uma jovem que a mãe ensinou tudo, ensinou a aprender se virar e foi ela, a minha linda Emília, que assumiu a casa, os irmãos, aliás assumiu tudo, desde ensinar tarefas aos irmãos, arrumar casa, cozinhar (o que faz muito bem) dirigir, supermercado e apoio emocional aos irmãos. A mão de Deus foi soberana nesse período com meus netos e Emília foi preparada pelo  que estava por vir e assumiu o papel muito sabiamente e serena. A nossa aflição não foi maior, já que não podíamos dar assistência, por ela mesma passar serenidade, nos tranquilizando e afirmando que tudo ia bem e daria tudo certo.

Depois de dias, minha filha e o meu genro foram liberados, tiveram alta hospitalar. A gratidão a Deus é grande e espero que tenha servido de ensinamento essa situação e que não possemos outra vez passar por mais uma situação semelhante.

Ainda continuamos por aqui escondidos, já que estamos numa zona rural e só saímos de casa quando há uma necessidade.

Pensávamos que voltaríamos pra João Pessoa,para a nossa vida cotidiana nesse ano de 2021, afinal está completando um ano agora em março que estamos aqui. Porém, diante do que está ocorrendo na Capital, decidimos permanecer por aqui até chegar o dia de receber a vacina.

Confesso que a saudade é imensa, saudade do cheiro e do abraço dos netos, dos filhos e do almoço em família aos domingos, de sair livremente sem medo pra resolver problemas cotidianos.

Cada dia acordo com esperança de que o pesadelo passou e que voltaremos a ter a “vida de antes”.

Que toda essa aflição mundial nos ensine a sermos pessoas melhores, menos consumistas, mais solidárias, mais respeitosas, mais humildes, humanas, e que aprendamos a partilhar com o próximo. Descobri que ter menos é mais, que o pouco nos faz mais humanos, que o ter não importa diante do ser.

Vários contratempos ocorreram nesse período, que passarei a contar em outro momento.

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7 Comentários

  • Reply Maria Lúcia 5 de março de 2021 at 11:00

    Muito bem, Cacilda. Continue escrevendo, expondo seus sentimentos, sua fé e sua esperança. Texto sereno, simples, sincero e que de certa forma me comoveu porque apesar de jovem, também sou mãe. Estou perto de você. Nasci e resido em Bananeiras, mas na zona urbana.

  • Reply SEVERINO R LEITE 5 de março de 2021 at 11:27

    Vai tomar o lugar de Tião. Escreva mais dona Cacilda.

  • Reply Aldo 5 de março de 2021 at 15:29

    Lição de vida. Parabéns

  • Reply JOCA 5 de março de 2021 at 16:48

    Bastião, cabra velho, você agora já pode parar de escrever e ficar peidando dentro dessa sua rede azul. A substituta botou quente na sua primeira postagem. Chama, chama, chama !!!!!!!

  • Reply Glauco Morais 5 de março de 2021 at 22:14

    Saudades do Monte Carmelo. Parabéns pela crônica q demonstra uma realidade dura e crua

  • Reply luciano vieira 5 de março de 2021 at 23:48

    Dona Cacilda me vejo passando hoje por esse sofrimento no qual a senhora e TIÃO passou,estou com um irmão internado vitima desse virus rogando a DEUS PELA SUA RECUPERAÇAO só eu sei o que estou passando junto com minha familia,não consigo dormir e quando dou um conchilo acordo assustado,só JESUS na e tenho fé no senhor que ele fazerá a obra.

  • Reply Delfos 6 de março de 2021 at 05:10

    Nada como ver o olhar sensível
    de uma mulher transformado
    num relato sincero de um
    cotidiano que angustia a todos
    nós.

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